sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

greve geral

nestes dias sul
cronicamente
inviáveis
andar na rua
sem roupa
nestes dias sul
invariavelmente
críticos
sextas sábados
e domingos
pobres pedindo
nas feiras
chepas, esperas,
farpas
nestes dias sul
escancaradamente
improváveis
nos julgamos
capazes
de renovar nosso
ânimo

para ná

enquanto servia mesas
as massas espessas
encurralaram o rei às
portas do palácio

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

pra nunca

porque não existe mais nada
vivo além da falta,
lembrança vazia é porquê
não sobraram projetos,
possibilidades, quem sabe
uma viagem, uma meia
a ser devolvida, motivos
pra uma tarde a toa,
uma manhã, contemplar garoas
chuvas a cair, luares,
sorrisos, delícias.
porque não existe mais
nada mais nos falta,
só a vontade incompleta,
a frustrada expectativa,
tantas palavras soltas, energia,
orgasmos, olhares charmosos,
pra um passeio futuro.

corte tenso

dois corpos tensos,
a massa de vidro
sólida, configurada.
folha transparente,
vidrada.

os dois corpos tensos
suportam-na tesa,
lisa no ar, carregam.
a folha de vidro tensa,
estilhaça.

os dois corpos tremem,
os cacos de vidro
trincam, crispam e caem.
esparrama-se o corte,
sangram.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

desapegado

a sexta feira treze
nem vi passar
dia todo a trabalhar

sábado, 7 de fevereiro de 2015

conta gotas

o que pra gente
é tanto, no prato,
na lagoa é pouco,
centavos.

mas de pouco em
pouco, assim como
frango enche o papo,
 esvazia o lago.

cada gota, segundo
de torneira aberta
vaza pelo cano
o raloduto tucano.

nosso esforço diário,
o trem, a rua, o aço,
o braço humano,
esvae, escorre,
evapora.

a chuva não cai
em lugar qualquer
território sitiado
ela só cai quando
água e força há.

o povo não sai
quando quer,
só quando juntar
forças pra destruir
o que lhe subtrai.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

o mar

a mar sempre mexe
bate onda
volta e vem e volta
onda rola
o mar sempre geme
onda bate
vem e volta e vem
odoiá o mar
assovia vento vem