sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

o lênin e um jornal

e se o Lênin
ficar assim
atual
de uma hora
pra outra
a toa
as suas palavras
fizerem todo
sentido
pra um monte
de gente
na rua
pra pessoas que
trabalham
tanto
uma massa de
gente que
não
tem tido tempo
pra nada e
quando
pára leva tranco
se de repente
o Lênin
e seu discurso e
seu jornal
pravda
estivessem diante
da massa
atual
e fizessem sentido
então Lênin
recuaria
como um menino
diante do
grito?

pro tubo de natal da coca cola

entubaram o papai noel
um biscoito e um urso polar
cocacola e algo mais
sinta a felicidade que tem ai
aumentam a passagem
do busão dois e oitentencinco
capital do natal o escambau
vão nos fodendo, do prefeito
ao síndico e ainda querem
o mundo bonito nessas horas
em que começo a acreditar
que fodam-se os vidros

carcará

não fiquei de cara
não fiquei nada
não fico de cara
não fico nada
não fique de cara
não fico só por ai
porque não pára
pra pensar
em mim ou em quê
quiser ou fazer
pra ficarmos
não de cara
mas cara a cara
e quiçá nos coma
o carcará

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

guerra ilha

cubana
ilha
guerrilha

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

brochada

avenida primeiro
ministro
brochado da rocha
aliteração
poema emplacado
foda-se o 
período parlamentar
da nação

na delegacia

queremos então, senhor patrão,
uma delegacia da arte
pra coagir qualquer estandarte,
definir nosso refrão.

uma polícia específica, artística,
que nos prenda, reprima,
obrigue e averigue se há rima,
se é de fato obra-prima.

violência! não viveremos de quase,
queremos ouvir de fato,
senhor patrão, o seu mais sincero
Não, maiúsculo, restritivo.

fabricaremos a arte, será filmada,
apanharemos cantando,
encenaremos o nada, retornaremos
àquela noite calada.

anunciaremos produtos e cartazes,
repetiremos apenas frases
que o senhor nos julgue capazes,
decoraremos os bares.

tranque o cadeado da sala do ensaio
que sempre foi a nossa cela
de agora em diante viveremos nela
cansamos desta jaula aberta.



domingo, 23 de novembro de 2014

ser rio

escorro
entre
pedras

broto

rompo
o vão
cavando

corro

acalmo
o chão
decanto

margeio

borbulho
o som
denso do ar

molho

profundo
recanto
despenco

peso

ser rio
sorrio
pro mar

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

sensivel


eu senti que  toda casa
abria pra rua, pra lua
pr'alguma parte de marte

eu senti que a minha tara
vinha da luta, uma rota
de fuga preste disparate

eu senti que a minha fala
traria a rusga tão bruta
da ferida que as vezes arde

eu senti que minha asa
abria pra lhufa de vento
tenso que a esticava

eu senti que o corpo voava
solto na brisa fina
que o sol da tarde soprava

eu senti o cisma do tempo,
córrego lento escorrendo
o que a montanha sonhava

domingo, 9 de novembro de 2014

unheimlichet

o exílio permanente
no próprio solo
o deslocamento
o espalhamento
desterro.

empilhados
na cidade grande
segue a diáspora
povos originários

afrika e amérika
o território ausente
identidade trans-plantada
desenterrada.

jamais retornaremos
a qualquer origem
no caminho há uma pedra
há a cidade
há a doença
há o dinheiro
não estamos em casa.

o ato

a augusta
ainda assusta
calçadas brutas
sensação fria
de caça à bruxa.
atravessa
à paulista,
avançando
o meio fio,
o ato sombrio.

o trânsito pára,
o ato passa.

falta água,
falta teto,
alfa villes,
analfabetos,
brooklins
e jardins.
a luta continua
mesmo assim,
sob bomba
e canhão,
periferiativa,
eles não passarão!

azar há

só há azar
a quem conta
com a sorte

de pé

tenho um poema e um pé
gravados no peito
marcas de amor, dos afetos
pegadas no meu trajeto,
o roteiro completo.

feitas à pisada, cavadas
com a ponta dos dedos,
a rima do poema dá medo,
é o silêncio no enredo
a distância que sempre há
entre dois pés ao caminhar
a vital necessidade de ficar
lado a lado se cansar

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

bandid'água verde

pisando leve
desce
a calçada
e senta
no meio fio
sutil
feito gata
conversa bebe 
lambe a boca
em desconcerto
sento na rua
na frente do carro
viro esquinas
vida bandida
topo com a mina
só por aí
na Paula Gomes
no Água Verde
bandidamente
mira e sorri

vês

tal
vez,
dez.
talvez,
três.
tal
vez,
viés.
talvez,
vez.
tal
vez,
véis.
talvez,
tez.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

caminhada

senta e lê.
não há
atalhos ao
saber.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

desfalcado

passei anos
                        colando
a vida em paredes

riscando bilhetes
que me lembrassem
de datas
            prazos
            fatos
                          planos

bilhetes a mim
que me fizessem viver
                           cumprir
                           chegar
                           voltar

memórias pro futuro
pra me tirarem do sono
em que vivo imerso
                            sonho

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

antídoto

pra veneno
de bicho
sem nome

cura pressa
e até quem
não dorme

cura fome
saudades
desordens

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

iprnga esqna sãojão

são paulo
nada é à toa
nem o pau
nem a garoa.

sábado, 6 de setembro de 2014

elegível

esses homens,
os quais no passado
lutei contra.
me pagam hoje, a conta.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

ao trabalhador

nossa política é tão
simples como
este monte de areia,
e forte como os
homens que o erguem.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

exagero

super
lativa
idade

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

entreparenteses

cada parêntese
tem servido
para pôr entre

quinta-feira, 24 de julho de 2014

cagada

cada poema é
uma aposta
um poema bom
dois poemas
               bosta

ampulheta

no tempo da arte
um espelho
o próprio trabalho


poema incompleto

poesia então será
algo que fique
o mundo que mude
restará a noite
prantos na chuva
pingando baixo
o silencio escorre.

a poesia vencerá
gota por gota
cada palavra terá
o chão repleto
rimará por metro
tesará o teto
pau e lona preta.

a poesia ocupará
terrenos lutará
por nada a menos
que sonhemos
obstruirá o féretro
que vos corteja
com carro aberto.


sábado, 12 de julho de 2014

trazes

junto frases
que nos tornarão
capazes
de revisitar
lugares, bares,
sensações fugazes
que antes
nos permitiam
ver cores e coisas
onde só
haviam quases

quarta-feira, 9 de julho de 2014

argentinazzo

o maracanã
será azul
e a alemanha
vai tomar
dezoito gols

terça-feira, 17 de junho de 2014

defronte o tempo

defronte à serra
vejo melhor o
comportamento
do tempo.

porque o clima
não é só
temperatura
e vento.

é onda que sobe
a nuvem
de acordo com
o oceano.

vento que sopra
frio e vento
que sopra forte
e quente.

defronte à serra
vejo a névoa
encobrir a vista
e condenso.

a ponta da serra
fica de fora
e a nuvem fica
nela, entre.

trovoa na terra
tudo ressoa
treme a nuvem
chovo dentro.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

pra se molhar

a chuva só é ruim
pra quem
está debaixo dela

quarta-feira, 4 de junho de 2014

grevefria

é junho!
somos
sonhos,
planos,
punhos,
metade
do turno.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

à sangue frio

quantos poemas
ainda por fazer
e a sede que há
em percorrer o
desenho do riso
com teu sangue

pixei

numa parede nua
inverti vértices
subverti os versos
verti o inverso
reverti o convexo
meu complexo
impregnei o plexo
mantive anexo
irrelevantes nexos




quarta-feira, 7 de maio de 2014

amoroso

amor  explode
é hormônio
não correspondente,
fratura no
homo sapiens sapiens,
seus sintomas
de bixo, cheiro e gesto.
ele é sexo:
corpo
tato
encontro
carga elétrica
pele.
e esgarça
tal qual tela
furada,
arrombada.
o amor dilata
dilacera
falta
       estraçalha
é lembrança.
na cadena de palavras
frouxas
    amor é apenas
uma  frágil  rima 
                          trouxa.

ou tonal

não sem tempo
o vento
soprou seu nome

quarta-feira, 30 de abril de 2014

misè-en-scenando

mudar de sábado
pra sexta
a rotina dramática
fazer teatro
às avessas vivendo
vida de ator
o personagem é ele

sexta-feira, 25 de abril de 2014

indo

se pudesse
eu amar ia
se quisesse
ir ela vir ia
se prendesse
o ar quem sabe
amanhecer ia

quinta-feira, 24 de abril de 2014

pan dora

abri aquela caixa
de cartas e tanta
letra havia contos
trechos de vida
três ou quatro
livros de poesia
coisa que nunca
ninguém leria
uns bons roteiros
peças de teatro
tudo inédito
planos de películas
e casas de alvenaria
aquela caixa virada
sobre a mesa
espalhada
vazia
li tudo me jogando
na caixa de maneira
suícida me apaixonei
de novo e com medo
guardei no armário
engavetei o sufoco
que fora da caixa havia

terça-feira, 15 de abril de 2014

afinar

se amor
não soar
tal qual
diapasão
creia não

ladro

você é osso
tutano
lance duro
de doer

te roo toda
e rouco
rosno louco
por você

quarta-feira, 2 de abril de 2014

primeiro d'abril

é mentira!
a juventude
diria.

mas era
verdade.

e primeiro
de abril foi
o dia.

por ruas
esvaziadas

marchando
duro o fuzil
reluzia

torturadas
metades

nunca mais
amanheceu
o dia.




só louco

dizer que só
louco presta
bem fácil
ora esta

quero ver ser
louco pralém
dos dias
de festa

segunda-feira, 31 de março de 2014

alicerce

nem esquecimento
nem perdão.
liberdades, justiça
e punição!

sexta-feira, 28 de março de 2014

rota independente

tudo depende
independente
mente  pende
surpreende e
dependendo
quando e onde,
carro ou bonde,
se Santa Rita ou
Caconde, brotam
rotas onde antes
somente haviam
meninos falantes

quinta-feira, 20 de março de 2014

rueiros

dias de arte
são dias de luta,
e cheias ruas
artistas invandem,
sonoros ou
cênicos colorem
todo centro.

dependurada
bailarina no viaduto
samba contra
o tamborim de um
segurança que
ameaçava'i de mim
fazer arte assim.

delegacia-arte
pr'artista e artesão
que não paga
os impostos por
fazer valor
com mãos e não
mãos ao alto.


colados

corpo nu corpo
tudo
ao nosso favor

domingo, 16 de março de 2014

sem lastro

na casa de cambio
buscava mudar
saía sempre vazio

sexta-feira, 14 de março de 2014

pan améri y tals

lua cheia na américa central
o coração separado:
entre dois mares, um canal.

panamá
panamérica
pan americanos

a vida tão irônica
entre o real filmado
e a ficção do real.

panamá, paraná ou islândia
quantas horas separam
a hora lacônica do despertar
entre o mar e um lugar?

exílios são muitos e o mito já
teve lugar pra encontros
nas baías istmícas do Panamá.

teuchêro

o cheiro fica nas coisas
de uma maneira aterradora
não sei se o cheiro que
é forte ou que sigo o cheiro

sei que o aroma invade
recobre, impregna, confunde,
o lugar todo fica assim

                       meio sem dono.

quarta-feira, 12 de março de 2014

penas válidas

almas pequenas
não cabem
em beijos apenas

sumido

em suma
desapareço
não sumo
viro o avesso

calendário lunar

abro em março
a agenda
talvez o tempo
entenda

domingo, 16 de fevereiro de 2014

bóra

não vá embora
embora
eu pense que
devas ir

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

mar d'água

a linha
sempre
incerta
do mar
d'água
volúvel,
mulher
certeira.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

nossos cachos

os primeiros cachos
da sua parreira
que ela cresça e se
fortaleça, e nos
alimente, fermente
seiva e semente.

domingo, 26 de janeiro de 2014

minguado

mingau
aguado
arroz
doce
salgado

sábado, 11 de janeiro de 2014

baseado em pepe

e agora mujica,
eu planto
ou a monsanto?
enrolo seu
progressismo
em sedas
neo-liberais?

al pesto

chamaram-me
pra um jantar
reencontrar
amizades de
ontem e hoje
sem tempo,
sabores.
sons crianças
desejos animais
e sonhos
quem disse que
nunca mais?
o sangue
o alho
o molho
encontros
sobrenaturais
pequeno mondo
ou sorte demais?
antenas acasos
explicações
nada mais.
a juventude
espouca e
encontra
caminhos
ao caminhar
se refaz
em filhos que
quiçá serão
mais fortes
que nós.