sábado, 24 de outubro de 2015

borboletas

já se foi o tempo da poesia
ela me disse
eram tantos poemas pra ela
agora escreve
só atas com palavras prontas
que aprendera
no código correto dos verbos
sem ênfases
ou advérbios subjuntivos
lá se foram
anos e anos de palavra leve
como as asas
de um inseto multicolorido
lembro-me dela
abrindo portas trancadas
e suas pernas
chamando com versos para
entrar na vida dela

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

supetão

é muito informação
palavras piscando
trânsito tráfego aéreo
é contramão adiante
vãos congestionados
miseráveis e ideias
túneis alças viadutos
a cidade é tão cheia
ônibus medos válvulas
cobradores legistas
associações civis
excesso de contingência 
continências conveniências
prédios casas apartamentos
gente por aluguel
guindastes motéis 
mercadorias ambulantes
coquetéis 
agências painéis artes
museus a céu aberto
a cidade é selvagem
a condução passa tarde
aterros que ardem
a rua tem voz
loucura é não escutar
suas paredes
a cidade calada dá medo
avenidas travadas 
ladeiras apego 
varandas e madrugadas






sábado, 17 de outubro de 2015

cais

o corpo vivo diante
do mar
é sempre um cais
um lugar
pra partir ou ficar

pela pele

de quantas ficções
é feita a vida real
quantas camadas
tem este personagem
qual a linguagem
que cria a realidade
qual o golpe de vista
que esconde a verdade
qual o termo correto
o gesto
qual o processo
que gesta
a forma das coisas
a matéria da irrealidade
a etérea verdade
que os sonhos ressonam
em som e imagem

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

terráqueos

somos terrestres
extremamente
aquáticos ainda
procuramos 
água no universo
boiando no espaço
trepamos 
contra a gravidade
reproduzindo 
um eco de mil anos
somos pedestres
bípedes que nadam
no espaço sideral
estamos no aquário
terrários
somos planta
enraizada
linguagem não serve
pra nada